Minha escola, meu retrato: sobre os diversos olhares do e no ambiente escolar por meio de fotografias
Alunas: EL874G – Estágio Supervisionado II
Mayara Katerine Del Pupo Profª. Drª. Áurea Maria Guimarães
Rebeca Signorelli Miguel
Mariane Aparecida Romão
Universidade Estadual de Campinas
Setembro de 2010
Introdução
O presente projeto de estágio se destina à disciplina EL874G - Estágio Supervisionado II, que propõe abordar “as diversas dimensões que assume o fenômeno da violência nas instituições educativas, abrindo espaço para indagações e reflexões acerca de mecanismos que possibilitem experimentar novas práticas e pensamentos no campo da educação na sua relação com as questões sociais e com os modos de subjetivação dos diferentes sujeitos” . Seguindo essa proposta, o presente projeto propõe abordar a violência no ambiente escolar a partir de retratos do espaço físico da escola, produzidos por todos aqueles que compõem o ambiente escolar, ou seja, discentes, docentes, funcionários, familiares etc. em oficinas de fotografia oferecidas pelos estagiários.
Justificativa
Quando se fala de escola, as primeiras imagens que normalmente logo vêem em mente dizem respeito a seu ambiente: prédio, corredores, fachada, salas de aula, pátio. Posteriormente, lembramos dos momentos e relações que lá tivemos, dos amigos, professores, momentos felizes, tristes. É difícil não relacionar o ambiente aos eventos mais importantes que lá se passaram, que dizem respeito aos conhecimentos adquiridos tanto sobre o mundo quanto sobre nós mesmo. Os espaços de uma escola são percebidos como dotados de significados, adquirem uma representação e interpretação determinada, são apropriados pelos indivíduos e se constituem como um lugar na medida em que passam a ter uma dimensão simbólica, ou seja, não vemos a escola como um espaço, mas como um lugar - em toda a dimensão representativa que este último termo detém.
Na medida em que um lugar nos propicia uma apreciação estética a partir de sua organização, disposição, cores, linhas, dentre outros elementos ligados à comunicação visual, também é inevitável a relação entre as emoções e o ambiente sob esse viés, tais como a tranqüilidade, medo, desconforto etc. em tal lugar. A reorganização do espaço da escola pelos indivíduos que dela se apropriam também contribui para a mudança ou construção de novas relações entre os que ali circulam. Segundo Freire, “O espaço é retrato da relação pedagógica. Nele é que o nosso conviver vai sendo registrado, marcando nossas descobertas, nosso crescimento, nossas dúvidas. O espaço é retrato da relação pedagógica porque registra, concretamente, através de sua arrumação (dos móveis...) e organização (dos materiais...) a nossa maneira de viver esta relação” .
Outra consideração que se deve fazer sobre o lugar é que este é um fruto de determinado contexto social no qual se encontra e, nesse sentido, tem marcas impressas por esse contexto, que podem ser percebidas de múltiplas formas na escola. A partir dessas considerações, traçamos as questões que movem esse projeto: como podemos perceber a violência escolar na construção, organização e reorganização do espaço no prédio escolar sob a ótica daquele que freqüenta a escola? Como as diversas percepções sobre a violência na escola se entrelaçam a partir dos diversos olhares de seus membros? Além disso, como, a partir do tipo de percepção que se faz do lugar, o aluno valoriza, preserva e se apropria da escola, vivenciando experiências que o auxiliam no processo de aprendizagem?
Estabelecidas as questões que nos levam a formular esse projeto de pesquisa, cabe-nos tratar do método.
Método
Quando o pesquisador parte para o campo de pesquisa munido de distintos recursos para captação de dados, seja um bloco de notas, gravador, máquina fotográfica, filmadora etc, é inevitável que a leitura pessoal que o pesquisador faz acerca de seu objeto de pesquisa se imprima nos dados por ele captados – ele se torna um mediador que direciona a fotografia, imagem, vídeo ou transcrição ao que lhe parece interessante, pertinente etc. Na medida em que nosso objeto de pesquisa diz respeito a questões muito subjetivas, a saber, as distintas percepções de cada indivíduo acerca do que para si representa algo de violento no espaço físico da instituição educativa, os dados obtidos diretamente pelo pesquisador, quando este deve lhes registrar, compilar, analisar, tornam-se a representação de uma outra representação, a saber, a que os indivíduos transmitem ao pesquisador. Nesse sentido, a fim de que esta pesquisa se aproxime ao máximo, mesmo sabendo que jamais completamente, do registro subjetivo daquele que vivência o cotidiano da escola, acreditamos que parte dos dados deva ser produzida diretamente pelos membros da escola. Mas qual recurso escolher? Optamos por oficinas de produção de retratos pessoais do ambiente escolar, onde os indivíduos possam desempenhar um papel ativo na produção de registros enquanto fotógrafos. A escolha da fotografia também nos parece interessante diante de entrevistas ou anotações - ainda que eventualmente possamos utilizar estas últimas na produção de nosso relatório final - porque o indivíduo, se com tempo e disposição para tirar livremente fotos no momento em que estiver disposto e em sua privacidade, coloca-se a construir um retrato para si mesmo através da câmera, em um exercício de reflexão e exploração do próprio olhar diante do espaço – que por vezes pode levar a novas perspectivas durante o ato de produção.
A fotografia não apenas registra o espaço, ela não é apenas vista, ela estimula diversos outros sentidos. O contato visual com a imagem daquele lugar leva o observador da foto a imaginar os sons que poderiam compor o momento fixado pela imagem, o momento anterior à ação registrada, o momento posterior – leva a composição da identidade do espaço de diversos modos por cada um que (re)interpretar a foto.
Pretendemos realizar três ou quatro oficinas ministradas pelas três estagiárias destinadas a professores, alunos, funcionários e familiares, com dias e horários a serem acordados com a direção ou coordenação de suas respectivas escolas. Utilizaremos diversas máquinas de captação de imagem, tais como máquinas analógicas, digitais, de celular e até mesmo pinhole.
Objetivo
Nosso objetivo com este estágio, primeiramente, é realizar uma aproximação da escola, de seu cotidiano, das pessoas que a compõem e das relações que ali se estabelecem. Em um segundo momento, com as oficinas de fotografia, pretendemos obter diferentes olhares em retratos, fotografias do ambiente escolar, com o intuito de abordar as diferentes concepções da violência presentes na construção e (re)organização do ambiente da escola. Além disso, a partir das imagens, pretendemos traçar uma identidade da escola produzida pela coletividade e verificar como essas percepções influenciam os alunos no processo de aprendizagem – o que tentaremos fazer a partir de observações e conversas com os professores e alunos.
A fim de não condicionar as fotos apenas à temática da violência, não iremos propor aos membros das oficinas que fotografem o que para eles é violento, ou que nos mostrem por meio das fotos a violência na escola, mas que tentem retratar, simplesmente, como eles próprios enxergam a escola, tanto em seus pontos positivos quanto negativos. A proposta é que a abordagem seja o mais livre possível e, por isso, um retrato mais sincero daquele ambiente. Esse tipo de proposta alarga os possíveis resultados de nossa pesquisa. A partir das fotos captadas, iremos analisar o que nos parece, agora em uma interpretação da interpretação, as impressões da violência no contexto escolar.
Posteriormente, pretendemos realizar exposições com as fotos selecionadas. Cada exposição será apresentada a outra escola do programa de estágio, de modo que possamos ter a leitura dos membros de uma escola das imagens produzidas nas outras.
Por fim, os resultados das intervenções serão analisados e compilados em um relatório, além de um pequeno livro, composto por imagens e textos, apresentado à direção ou coordenação da escola, aos outros alunos da disciplina de estágio e à professora.
Cronograma
Setembro – idas às escolas com o intuito de se aproximar do ambiente escolar;
Outubro – produção das oficinas de fotografia;
Novembro – exposições das fotos em nas outras escolas e complicação do material tendo em vista a produção do relatório final.
Bibliografia Sugerida
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COLIN, S. Uma Introdução à Arquitetura. 4ª Ed. Rio de Janeiro: UAPÊ, 2000.
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